Decepção

Hoje na escola aconteceu o chamado “bafão”. Vou começar do início: ontem na hora do intervalo da tarde, dois alunos se pegaram, um chutando o outro e por aí vai. A Lígia (inspetora de alunos) separou a briga e os levou para direção. Quando a coordenadora foi conversar com eles, um (o menor, por sinal), extremamente violento, iniciou uma série de demonstraçõs de FALTA de educação: respondeu, disse que ele respondia mesmo porque ninguém ali mandava nele, se bateu, esperneou, enfim, nunca vi molequinho tão agressivo (gente, o menino tem 7 anos). O mínimo que a coordenadora pôde fazer foi mandar um bilhete para os pais.

É aí que o bixo pegou. Hoje, na entrada do período da tarde, a mãe da criança (não sei nem se pode chamar aquilo de mãe) já chegou na escola xingando todo mundo. Disse que a escola é um CA*** (isso mesmo), que ali ninguém prestava, que o negócio com ela era resolvido na porrada mesmo, e ainda por cima tinha orgulho de falar que não tinha nem um pingo de educação. E mais, disse que o filho respondia mesmo porque a gente não mandava nele e muito mais que dispenso escrever aqui.

Meu Deus, como pode existir um ser desses? Eu trabalho na educação há três anos e NUNCA vi nada nem semelhante a isso. Que exemplo essa mãe está dando para seu filho? Ontem, ao ver aquele menininho respondendo eu me perguntei: “nossa, será que ele fala assim com a mãe dele?” Hoje eu só confirmei que aquele garoto é o reflexo de sua mãe. Ele agiu daquela maneira porque se espelha na mãe diariamente.

E agora me pergunto: como a escola pode trabalhar com um aluno que não tem acesso à educação na própria casa? E eu não falo de alfabetização, não. Estou falando de princípios básico que a família ensina em casa.

Lembro-me que quando havia reunião na escola e a professora falava alguma coisa minha ou dos meus irmãos, a minha mãe até poderia ouvir a nossa versão dos fatos, mas nunca tirou a autoridade da professora.

Tudo isso não tem nada a ver (somente) com a condição social da pessoa; na escola onde eu trabalho existem alunos extremamente pobres e que os pais são muito mais presentes na educação do filho do que outros que tem uma condição social melhor.

Confesso que o sentimento que eu fiquei (depois de passado o susto, claro) foi de decepção. Primeiro, porque não vejo esperança para o caso desse menino, lindo por sinal, de apenas sete anos. E sinto como se fosse um fracasso, sabe, porque ele é apenas uma criança e já age como um marginal.

Resta-nos acreditar num futuro melhor para as crianças e, principalmente para os pais, que devem se conscientizar que a educação não começa na escola, inicía-se no berço. Respeito, compreensão, educação são coisas que deveriam ser natos às pessoas, e tem gente que não conhece nem o significado.

Uma coisa eu tive a certeza: os filhos aprendem o que vivenciam. São reflexos dos pais (ou responsáveis). Espero que no futuro (próximo) essa mesma mãe que defendeu as más atitudes de seu filho hoje não esteja chorando no enterro dele ou esperando numa porta de cadeia para visitá-lo. Porque isso é fato mais que comprovado. Infelizmente, é.