a menina groupie

Hoje estava limpando a sacada e Bruno limpando o resto da casa quando ele diz: hey Siri, play nirvana. Fui teletransportada para  20 anos atrás. rsrs até reclamei porque, porra, que fase escrota essa de 20 anos atrás. Eu era feliz sim, estudava em um colégio que sempre sonhei.  Mas eu era um peixe fora d’água.  Fiz muitos amigos naquela época, mas não tenho contato com mais nenhum. Então acho que não era tãão meus amigos assim né.  Sinto que eu também não era amiga de ninguém, então nem cobro. Mentira, tenho um grande amigo. Que inclusive é padrinho da minha filha. Mas essa é história pra outro chopp. 

Voltando ao Nirvana, um dia eu mandei uma carta para uma revista de rock pedindo para me corresponder com quem gostava de Nirvana ou Guns and rose. Recebi umas 500 cartas gente. Pensa, todo dia umas 20 cartas naquelas caixinhas de correio de metal. O carteiro me chamava no portão porque não conseguia enfiar todas as cartas ali Ahahhahaha. não respondi nenhuma. Não tinha grana pra botar selo. 

Me lembro de um moleque baterista que por um tempo foi meu primo (outra história, outro chopp) que vivia me falando: “você gosta de guns mesmo? Então fala uma música de cada CD que você gosta. Como chama o guitarrista?” Tipo tentando provar pro mundo que eu não gostava tanto assim porque afinal eu não sabia o nome dos caras, nem a comida preferida deles. Meu cú. Sefodê né. Desde aquela época os macho  hétero top tentava me calar.

E eu só gostava das músicas. Eu ouvia e curtia. Eu me emocionava com as músicas, eu dançava e queria pular quando eu ouvia. Eu sentia as músicas E eu não sabia quem era o baterista, o baixista, eu só curtia. Mas tinha 14 anos né, lá fui eu decorar o nome dos integrantes pra ter o direito de gostar.

Esses dias uma amiga  disse que ser adolescente é pertencer. Ser igual pra ser aceito. 

Minha filha tem seis anos e o que eu mais repito pra ela é bem diferente dessa frase acima. Claro que a gente precisa pertencer, mas em um grupo diverso. Não precisa todo mundo usar all star pra fazer parte do grupo (sim, eu usei e até usaria de novo). Se quiser, até pode, mas tem que partir de uma escolha.

Escolhas, ainda que idênticas dentro de um grupo, precisa partir do pressuposto do querer.  É tão difícil isso né. 

Isso sem nem entrar na conversa de que somos genuinamente diferentes mesmo, inclusive quando não optamos ser. 

Se não, fica todo mundo idiota fazendo dancinha de tik tok. 

Por um mundo em que a gente possa gostar das músicas das bandas sem conhecer o nome guitarristas. 

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