Manezinho

O nome “Mané” foi escolhido por ele ser o cachorro mais bocó que a gente já tinha visto. Não aprendia a subir no sofá, pegava impulso pra subir e caia antes de chegar no alvo. Era um “manézinho” mesmo. Nasceu magro e a vida fez ele virar um toiço… sim, ele era uma bolinha que até andava com as pernas tortas de tão toicinho que estava. 10 anos pra um cachorro é bastante tempo, né? Ainda mais se esses 10 anos forem regados a ração e alguns quitutes extras. Sempre rolava um pãozinho ou algo mais. Bastava fazer aquela cara de “me dá só um pedacinho, vai”, que ele ganhava fácil alguma guloseima.

É claro que a cirurgia para castrá-lo teve muito mais culpa nos kilos extras adquiridos, mas era necessário, já pensou quantas gerações viriam se esse garanhão cruzasse todas as vezes que as fêmeas da casa entrassem no cio? Pra ele não tinha diferença, queria a mãe, a irmã e quem mais passase no caminho rsrsrs. Tentou deixar alguns herdeiros, mas sobreviveu a todos. Minha mãe tem razão quando diz que na nossa casa os cachorros vivem mais. É a segunda morte que eu vivencio em 18 anos de compania canina. Talvez por isso o sofrimento é ainda maior.

O cão mais bonzinho, vinha todo rebolante quando chamado. Cada vez que voltava do banho no veterinário vinha com um penteado diferente e morria de vergonha. Se escondia debaixo da cama, do travesseiro, do lençol, procurava um cantinho pra esconder seu visual envergonhado. E a gente tinha que agradar… agradar bastante pra auto-estima voltar ao normal. Nunca aprendeu usar coleira pra passear. Era só colocar que o danado travava. Empacava mesmo. O bichinho era preguiçoso até pra passear na rua, coisa que os cãezinhos normais adoram fazer. Ele preferia ficar tirando um cochilo em casa mesmo.

Depois que o Nick chegou em casa, reaprendeu a comer as tigelas de água, chinelos e destruir vasos de plantas. Onde já se viu um senhor voltar a fazer essas peraltices?? Quando dizem que os amigos são grandes influências, pode ter certeza que é verdade. Só que no caso dele, como aprontava em câmera lenta, sempre era pego no flagra. Minha mãe culpava o Nick por ter ensinado. Vê se pode, um cachorro ensinando o outro a aprontar! Era só o que faltava, né?

As poucas vezes que ficava bravo era quando alguém chamava em casa e ele latia no portão se achando um leão feroz. E não deixava os outros cachorros da casa se aproximar do portão, ficava bravo e corria atrás deles no quintal. Era engraçado, ele queria latir no portão sozinho, como o guarda da casa. A braveza ia embora assim que a pessoa passava da calçada pra dentro de casa. Acho que ele pensava que todo mundo que ultrapassasse a barreira do portão se transformava em melhor amigo.

Tantas e tantas vezes teve que ir ao veterinário por causa de uma otite que insistia em voltar. Minha mãe era a única que conseguia limpar dentro do ouvido dele, e de vez em quando virava uma fera rosnando, tentando impedir aquela “chatice”. Mas era sempre para o seu bem, pena ele não entender direito. Lembro quando estava com uma tosse seca que o fazia engasgar… veterinário de novo e um xarope vermelhinho. Esse ele lambia gostoso, acho que devia ter um gostinho bom. 😉 De tão gordo a pela era super oleosa e tinha que tomar banho com um shampoo especial pra não dar fungo naquela pele “ensebada”. Frescurento, né? Mas a gente sempre cuidou direitinho.

Agora não está mais aqui. Não vai mais rosnar na hora que estiver comendo nem quando precisar limpar seu ouvido. Foi embora tão de repente e inesperado como chegou. Sozinho, enterrado num canto qualquer, fazendo virar lembranças distantes aqueles momentos ao seu lado.

Ele era demais! Seu jeitinho de olhar, de chegar. Eu poderei ter 100 anos que não vou esquecer! Mas vou sentir a falta diária de um cachorrinho gorgo e folgado que viu minha vida acontecer por quase 10 anos.

12 comentários em “Manezinho

  1. Ai, vc sabe como amo cachorro… fiquei com o olho cheio de lágrimas lendo o seu post! Tadinho dele! Morreu de que? Eles fazem tanta falta né? Ainda penso no Teo diarimente!

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