Clarice tem um defeito de fábrica. Um probleminha desde bem pequena. Um pequeno detalhe: ela come massinha. Sim, come massinha. Qualquer uma. Com glitter, caseira, a cheirosa, a fedida. Ela pega um pedacinho e come. Veja bem, quando ela era menor ela comia porque né, bebês botam tudo na boca. Cresceu e aprendeu que massinha não é alimento. Mesmo assim, ela come massinha. Ela brinca, faz os moldes, inventa histórias, e de repente, em dado momento, ela dá uma lambida. Em seguida, coloca um pedacinho na boca.
Ela tem seis anos. Quase sete. Faz contas matemáticas que muitas vezes chocam as pessoas ao seu redor. E come massinha.
Mais uma vez: ela sabe que não pode comer. Sempre que ganha uma massinha nova, “promete” que não vai comer, que só vai brincar. Ela AMA brincar de massinha, e muitas vezes tiramos dela e jogamos fora pelo fato de ter virado alimento. É chororô em seguida.
Da última vez que compramos ela, pecado, disse que ia brincar de máscara para não comer. Ela é tão lógica nas soluções, mas não consegue colocar em prática. Quando vê, já comeu. Já me disse que não consegue se controlar.
E é isso mesmo. O cérebro da criança não faz o que ela quer. Não esta pronto, desenvolvido. Muitas vezes, nós, adultos com raiva, interrompemos um comportamento da cria achando que ela estrategicamente pensou para realizá-lo. E era apenas um cérebro que não obedece aos comandos porque não está todo pronto.
Longe de mim dizer que tudo bem, come aí a massinha, em um mundo de corona vírus ainda. Mas o que eu queria registrar aqui (inclusive pra mim mesmo), que muitas vezes nos resta acompanhar, vigiar, acolher e bora pra frente. É com o tempo que as coisas dão certo, já diria sei lá quem.
Sim, uma criança aprende tabuada e come massinha. E tá tudo bem.